no discurso literário resumo
Ricardo Pinto de Souza/UFRJ
José Guilherme dos Santos/ UFPA
ricardo.pintodesouza@gmail.com
Ricardo Pinto de Souza/UFRJ
José Guilherme dos Santos/ UFPA
ricardo.pintodesouza@gmail.com
Palavras-chave (mínimo 3 e máximo de 5): Tradução
Cultural, Estudos Culturais, Nacionalismo, Identidade Nacional, Hegemonia das
Diferenças
Levando em consideração a importância que o
território interior, como as terras habitualmente chamadas de Sertão ou as
terras Amazônicas têm para a formação da identidade brasileira (assim como a
latino-americana) e para a formação da tradição literária no país, este
simpósio se propõe a rever as formas de representação, de tradução e de
apropriação/colonização do sertão e da floresta por parte das “cidades
letradas”, sem descuidar da correlação do mundo letrado com as produções
textuais das populações originárias. A questão que norteará as discussões do
simpósio será a seguinte: como e com quais sentidos são construídas as
representações de cada segmento, seja letrado ou local? Constituídas
simbolicamente como o lugar do outro, como o lugar do sertanejo ou ribeirinho
em oposição ao citadino, do lugar sem história em oposição aos lugares cultos,
do civilizado em oposição ao selvagem, paradoxalmente o sertão e a floresta são
também espaços a partir dos quais a identidade nacional finalmente se afirma,
em que a descoberta de si e do outro é finalmente possível. Daí, pois, a
necessidade de se pensar simbolicamente esta tradição de representação do
“lugar distante, do longe” e do Hinterland como a cartografia de uma
geografia-limite, um espaço geográfico e humano em que as regras usuais de
representação não se aplicam, ou necessitam ser interculturalizadas com o
local. A vant agem fundamental de se pensar este processo de representação
enquanto um ato tradutório se refere à preocupação e à sensibilidade que a teoria
da tradução possui em relação à manutenção da alteridade e da diferença daquilo
que é traduzido no texto que traduz.
Se, por um lado, a interrogação desta tradição
literária significa estabelecer as fissuras e violências simbólicas que a ação
de criar este outro negativo acaba gerando não apenas contra o “sertanejo”, mas
também sobre o consumidor deste tipo de representação, é necessário um esforço
a mais para resgatar e tornar presente no jogo discursivo a auto-representação
destas comunidades. Pensar a representação destas terras interiores por seu
outro urbano e letrado deve passar também por refletir sobre a representação de
si nestas comunidades. Neste caso, é preciso articular problemas formais e
políticos que precedem a discussão sobre a alteridade, especialmente o caráter
único, com regras estruturais e poéticas próprias, das na rrativas e poemas da
tradição oral, assim como o problema de manutenção da memória comunitária sem o
recurso ao texto. Da mesma forma, deve-se perguntar que significado e influência
estas formas externas de representação têm sobre as comunidades que são
retratadas, qual o período de latência dessa influência, qual seu alcance?
Assim, o Simpósio Hinterlândia, Interlândia:
representação e apropriação das geografias-limite no discurso literário
receberá comunicações que possam articular teoricamente o proposto acima,
propondo uma crítica da grande tradição de reflexão sobre as geografias-limite.
Como temas afins dentro da discussão, propomos:
i. a construção do outro e do próprio identitários
através do discurso sobre o Sertão e a Floresta;
ii. a tensão entre interesse local/universal na
tradição literária de representação do interior;
iii. a auto-representação do Sertão e da Floresta e
o seu silenciamento no discurso sobre eles;
iv. poéticas e problemas teóricos da oralidade em
sua relação com a representação do interior;
v. revisão teórica do relato dos viajantes e a
invenção do Sertão e da Floresta;
vi. o Sertão e a Floresta enquanto lugares da
violência;
vii. o Sertão e a Floresta hoje;
viii. a centralidade na tradição latino-americana
do relato sobre o interior.
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